Os consumidores da informação de natureza jornalística foram os grandes protagonistas da sessão dos Encontros da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) que decorreu na passada semana na Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo. Referindo-se ao facto de os jornalistas falarem todos sobre as mesmas coisas, mas não relatarem os factos da mesma maneira, alguns dos presentes contaram a dificuldade que, por vezes, sentem em fazerem a triagem da informação a que acedem. Descreveram que, por uma mesma situação ser relatada de maneira tão diferente, a perspetiva com que ficam sobre um assunto pode variar muito, dependendo do órgão de comunicação social a que têm acesso.  E isso pode levar a distorcer a perceção da realidade e do que é efetivamente verdade.

Esta temática serviu de mote para a abordagem de questões relacionadas com dúvidas que se têm levantado aos jornalistas e que vão muito além da interiorização do seu direito à liberdade de expressão e de criação ou ainda de acesso às fontes, mas que se prendem, sobretudo, com a prática e exercício da atividade jornalística respeitando a ética profissional. Conscientes de que a informação que produzem tem o único propósito de chegar ao consumidor, as opções que fazem na forma como tratam os factos e transmitem as notícias é que causa diferente impacto nos leitores, ouvintes ou telespectadores. E essas opções variam consoante os jornalistas são tanto ou menos cumpridores dos deveres éticos profissionais a que estão adstritos pelo Estatuto do Jornalista e Código Deontológico.

Ficou claro entre os presentes, nesta que foi a sétima edição dos Encontros, que o jornalista é mais do que a voz, o olhar ou os ouvidos dos cidadãos, ele é o pilar da democracia. Para o consumidor, a garantia de que a informação é rigorosa, isenta, independente e fidedigna, segundo os presentes, é de que seja dada pela aproximação ao cumprimento e respeito total pela ética profissional e dos deveres que regulam a atividade jornalística.

Um outro aspeto destacado pelos profissionais presentes foi o facto de um jornalista exercer uma atividade incompatível só por si, não definir um jornalista. No entanto, realçaram que é importante que se cumpra com o que prevê o regime de incompatibilidades consagrado no artigo 3.º do Estatuto do Jornalista, independentemente de considerarem que poderá e deverá ser alvo de algumas adaptações numa próxima alteração legislativa. Em nome da credibilidade e da insubmissão dos jornalistas.  

Os diálogos itinerantes (que poderão ser acompanhadas à distância) irão continuar para, num registo de proximidade, apresentar a missão da CCPJ e continuar a debater estas e outras questões que atualmente se levantam em torno do “Jornalismo que temos e que Jornalismo queremos” e as preocupações com os “jornalistas de hoje a caminho do amanhã”.

O objetivo destas conversas é o de abrir as sessões ao diálogo, à reflexão e partilha de ideias. Entre pares, pensar o jornalismo atual, o papel dos jornalistas e, eventualmente, juntos podermos contribuir para construir bases para sugerir mudanças. Alterações a nível legislativo, comportamental e de compromisso para com a atividade jornalística.

Estão previstas vinte sessões, uma por distrito do continente, uma na Madeira e outra nos Açores, onde pelo menos dois dos nove jornalistas que compõem atualmente o Secretariado e Plenário da Comissão se disponibilizam, por um lado, a apresentar o organismo e falar sobre as suas competências e funcionalidades. E, por outro, partilhar experiências adquiridas enquanto jornalistas e no exercício das funções que desempenham na CCPJ, entidade independente de (co)regulação dos jornalistas.