A presidente da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ) - Licínia Girão - esteve no lançamento do último número da revista científica Faces de Eva - Estudos sobre a Mulher, dedicada à primeira jornalista profissional portuguesa, Virgínia Quaresma, que decorreu, na passada semana, no auditório do jornal Público em Lisboa.

Com a moderação a cargo de Aline Flor, jornalista do Público, as investigadoras Carla Cerqueira, Isabel Ventura e Filipa Subtil destacaram o pioneirismo de Virgínia Quaresma, nascida em Elvas em 1882, como sendo a primeira mulher a ser remunerada como jornalista em Portugal. Durante a apresentação da revista dedicada à jornalista que contribuiu, ao longo das primeiras décadas do século XX, para revolução na forma de fazer jornalismo, com a transição para o designado “jornalismo moderno” que introduziu a reportagem e as entrevistas no quotidiano das publicações, foi ainda destacado o seu papel enquanto ativista de causas sociais e políticas.

Carla Cerqueira destacou a faceta irreverente desta mulher que “dizia que o trabalho jornalístico era uma forma de intervenção”. Além de mulher e jornalista, obstáculos difíceis de ultrapassar num mundo dito de homens, Virgínia Quaresma ainda teve de enfrentar outros preconceitos. Era negra e lésbica, o que para redações das décadas de 1960 e 1970, “masculinas e brancas” - como as caracterizou Isabel Ventura, autora do livro “As Primeiras Mulheres Repórteres” -, lhe fez certamente aumentar ainda mais a pressão, uma vez que se considerava que as mulheres “não eram inteligentes o suficiente para escrever sobre determinados assuntos”.

Filipa Subtil destacou a colaboração da CCPJ, que apoiou esta iniciativa da Faces de Eva - Estudos sobre a Mulher, nomeadamente por ter sido através dos dados cedidos pela CCPJ que concluiu que se tem verificado um “processo de feminização contínuo” nas redações nas últimas décadas, sendo que desde o início deste século o número de jornalistas mulheres se tem mantido na ordem dos cerca de 40%.